

O Município de Benavente é uma zona de referência entre a região do Ribatejo e área metropolitana de Lisboa. A borda d´água, a lezíria e a charneca ribatejana marcam a sua identidade cultural e contribuem, para que este território tenha reconhecida importância do ponto de vista do património natural, com enfoque especial na avifauna selvagem. As acessibilidades entretanto criadas (A10 e A13) abriram novas possibilidades ao desenvolvimento social e económico assente em pressupostos de modernidade, garantindo a preservação da nossa identidade.
Localizado no distrito de Santarém, podemos entender este território como a grande campina na zona de confluência do Tejo, a norte com os grandes arrozais e os extensos montados de sobro quando caminhamos para sul.
Ocupa uma área de 521,38 km², onde residem cerca de 30 mil habitantes, nas suas quatro freguesias, Benavente, Samora Correia, Santo Estevão e Barrosa.
A riqueza histórica e cultural aliada a um património natural de inestimável valor, confere a esta região uma beleza singular. Quem nos visita não fica indiferente à diversidade de pontos de interesse que o município oferece.
Lezíria Ribatejana
Terrenos baixos e recentes, alagadiços e muito férteis, as lezírias do troço terminal do Tejo são um elemento característico na formação da paisagem do município de Benavente.
A lezíria encontra-se abaixo do nível médio das águas do estuário do Tejo e daí decorre a necessidade de ter estruturas de defesa, combro e valados, que separam os terrenos conquistados ao rio, suporte de uma atividade agrícola ou pecuária baseada na água doce, daqueles que são mais naturais, as áreas estuarinas sujeitas ao regime de marés.
Originalmente pobres, os terrenos da lezíria foram construídos, a partir do século XIV, pela agregação de fundos lodosos e salinos do próprio estuário em múltiplas ilhas deltaicas, característica que se encontra presente na própria palavra “lezíria”, que radica no termo árabe “al Jazira” ou “a ilha”.

Tendencialmente, ao longo dos anos, a salinidade dos terrenos da lezíria foi sendo atenuada por práticas agrícolas específicas, pela rega com águas doces e os terrenos foram fertilizados pelas cheias de grande dimensão, que ritmicamente depositam em nateiros os ricos sedimentos de montante, aumentando deste modo a qualidade dos solos, que são atualmente dos mais férteis da Península Ibérica.
Com destaque atual para o arroz e o tomate, são muito variadas as culturas agrícolas que a lezíria pode suportar, de sequeiro ou de regadio, ainda que esta exploração tenha impedido em grande medida a produção pecuária, afastando destas planuras o gado cavalar e vacum que faziam outrora parte fundamental da cultura e da imagem destes territórios.
Montado de Sobro
A Charneca do Infantado, no município de Benavente, ocupa uma área de 11 mil hectares, só em terrenos da Companhia das Lezírias.
Destaque para os povoamentos de sobreiro de morfologias e estruturas que vão do sobreiral com complexa estrutura arbustiva, até povoamentos mistos com pinheiro-bravo e pinheiro-manso, até ao montado sem estrato arbustivo representando em conjunto, mais de 3/4 da área florestal (6.725 ha).
A cortiça é um recurso natural, renovável, e muito valioso. Na Companhia das Lezírias, esta riqueza é acarinhada para que seja sustentável.
O valor económico dos montados reflete-se na produção de cortiça, tendo em Portugal o maior exportador deste material, estando a sua importância cultural relacionada em grande medida com a sua função de conservação da biodiversidade. O Montado de Sobro apresenta também capacidade de suportar outras atividades económicas com importância regional e local, nomeadamente a criação de carne e leite de qualidade enquanto bases da indústria agroalimentar, a apicultura, a recolha de cogumelos comestíveis, a exploração de recursos cinegéticos e atividades de turismo de natureza, rural e ecoturismo.
É um sistema que tem no Homem o elemento central do seu funcionamento. O “monte”, elemento estruturante e distintivo do Montado, constitui o primeiro assentamento humano no território e a unidade habitacional rural do Alentejo e do Ribatejo.
Campino
Num território marcado por lezírias e charnecas, a relação do homem com o animal, bovino e cavalar, foi ao longo dos séculos muito próxima e de natureza quase simbiótica e aqui falamos do campino.
Esta expressão tem constituído a referência cultural mais ampla do Ribatejo. A bravura do touro, a paisagem a perder de vista e a permanência solitária no campo, concorreram para que se acentuassem os feitos e se evocassem os atos de coragem e valentia desta “figura da lezíria que nasce e morre nos campos da Borda d’água” (M.Mesquita, 1908). Já no século XVII, encontramos referências a estes guardadores de gado nas margens do rio Tejo.

A partir do século XIX, o aparecimento das Casas Agrícolas e o consequente desenvolvimento da produção animal e cerealífera exigem inúmeras atividades rurais, das quais se destaca a do campino como maioral, guardador, abegão ou maioral real.
No início do século XX multiplicam-se as grandes produções agrícolas e pecuárias nestes solos férteis e durante os pousios, manadas de equinos e bovinos tiravam partido do pasto que a terra oferecia. Consolidou-se no seio das Casas Agrícolas uma classe de trabalhadores, artesãos, cavaleiros e lidadores, mestres nas artes do campo e que hoje designamos por campinos.
A figura do campino é reconhecida neste território como nossa, manifesta-se de forma espontânea e inevitável na imagem que vamos construindo da nossa cultura, naquilo que nos distingue, torna singulares e que é a nossa identidade cultural.